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As faces deste abril
Pequena análise sobre os marcos jornalísticos presentes neste mês
· Mikael Melo
Embates ideológicos. Espectros da ditadura. Um dia dedicado à mentira, e outro que é – ou deve ser – a mais pura expressão da verdade. O abril que abrigamos neste momento mal começou e as concepções sobre o mundo, as pessoas e as coisas nas esferas jornalísticas já impõem forte presença. Neste mês, vozes do jornalismo ecoam por âmbitos distintos e é de bom grado, aos cidadãos, a análise desses marcos.
Já é do conhecimento de todos que na “modernidade líquida” (BAUMAN) que vivemos, até os conceitos ideológicos de direita e esquerda, também se fragmentam. O que não quer dizer que eles se perderam, é claro. A separação entre esses logicamente ainda existe. O jornalismo brasileiro mostra-se firme nessa questão. E é bom ver que ela existe, é bom saber que temos campos de reflexão distintos. Não há nada mais filosoficamente saudável que o debate.
No entanto, a questão é que nosso país vive muito de extremismos. Tanto na violência cotidiana, quanto no campo intelectual. Será o “lançamento de campanhas” como: “(...) faça um favor ao Brasil, adote um bandido!” (SHEHERAZADE) o melhor caminho para o avanço de um país? Certamente não.
E como não mencionar o Golpe Militar? Em uma das faces deste abril, vivenciamos os 50 anos do ocorrido. Entretanto, a ditadura que calou a liberdade de expressão teria de fixar-se dia 31 de março, é claro. Um tanto quanto grotesco e escancarado seria se o discurso de “consolidação da democracia” fosse posto no dia seguinte. No dia da mentirinha, 1º de abril. Não importa se esse período de repressão foi menor que em ditaduras de outros países. “Uma única pessoa torturada é uma ofensa a todas as outras.” diz Rose Nogueira, presidente do grupo Tortura Nunca Mais/SP.
O “porque sim não é resposta” teve de ceder ao sim, sim, sim. Teve que olhar para um lado apenas e não se queixar. O abril que se inicia como mentira, esse ano se inicia com uma verdade: 1964 é um ano que precisa terminar.
Mas também, este é um mês em que se comemora o dia do jornalista! O dia em que se comemora a existência de um profissional que escreve a história e contempla as ideias. 07 de abril é o relato modesto do profissional que honra a palavra em busca da verdade. Scripta manent, verba volant, a escrita permanece, a fala voa, diziam os latinos. Frase tão leal à nossa atividade.
“(...) Para que os cidadãos possam ser politicamente iguais, é imprescindível que, por outro lado, nem todas as suas opiniões o sejam: deve haver algum meio de hierarquizar as ideias na sociedade não hierárquica, potencializando as mais adequadas e descartando as errôneas ou daninhas. Em resumo, buscando a verdade.” – Fernando Savater.
Pois que assim seja a nossa busca. Que possamos correr contra o tempo a fim de mostrar a verdade, analisando todos os ângulos e questionando-os. Em abril também tem o dia da verdade. E é bom lembrar: quanto mais consolidada for a democracia, tão mais verdadeiro o jornalismo será.
Mikael Melo, é aluno do 3º período do curso de Jornalismo do UNIPAM.